quarta-feira, 2 de julho de 2014

Mas afinal, o que é o Surrealismo?

      As vanguardas - do francês “avantgarde”, termo que dá nome ao avanço de pelotão -europeias tinham como principal motivação a ruptura do conceito de representação da época, queriam recriar o modo de fazer arte, questionar a maneira não moderna de se fazer poemas (e prosa), pinturas, fotografias e cinema do século XIX. Das diversas tendências criadas durante e pós Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Surrealismo é um dos que mais representaram essa nova forma de fazer arte. Com temas e modos de criação inéditos, os artistas conseguiram dar voz à estética e não deixá-la morrer “em suas obras vivas”. 
      O Surrealismo teve em André Breton seu principal teórico - ele, que escreve os dois manifestos da estética (o primeiro, lançado em 1924, é o marco inicial do movimento), é o principal idealizador, fala quem está ou não na vanguarda e é o principal pesquisador das novas técnicas de pensamento e escrita surgidas com a tendência. Ele pontua as principais características e vontades do Surrealismo: a adoração pelo Maravilhoso (o plano do sonho, do inconsciente, onírico) - “O maravilhoso é sempre belo, qualquer maravilhoso é belo, que seja belo somente o maravilhoso” (Manifesto do Surrealismo) - como a ampliação da realidade em direção ao imaginário; o uso da escrita automática - escrita automatizada, espontânea, não-dirigida, a busca da matéria primeira da linguagem que visa libertar o escritor de seguir as regras da literatura (principalmente dos romances, desprezados pelos surrealistas), assim escreviam sem parar, sem corrigir e não havia correções nos textos; a entrada nos estados de hipnose - o alcance real do inconsciente - que proporcionavam momentos de iluminação poética, transcritos após a saída da transe; a aproximação do movimento com a psicanálise de Freud - buscando entender melhor o plano onírico, o inconsciente. O Surrealismo também se revolta contra as regras da lógica, da razão, do bom-gosto, da moral, e de todas as formas de ideologia ou espírito crítico. Luta contra a alienação da sociedade, contra a aceitação dos valores pátria, família, religião, trabalho e honra. Procura a revolta absoluta, a insubmissão total.
      Por causa dessa vontade de aproximar o surreal à realidade, no primeiro momento de apresentação da estética, a rejeição da sociedade foi muito grande. Os quadros e artes plásticas causaram grande estranhamento, já que tinham um ar non-sense muito forte (qualquer tema não real era retratado: relógios derretendo, homens chuvendo, navios com borboletas sendo as velas). Algumas obras se aproximavam do dadaísmo (vanguarda criada por Tristan Tzara em 1916), porém, diferentemente desse, o surrealismo não tem “a negação pela negação” como verdade. Breton cria sua estética querendo sistematizar a negação, para que se torne afirmação - a subversão aos valores da sociedade com princípios e objetivos -, o dadaísmo queria espantar burgueses, algo que se torna desgastante com o passar do tempo.
      Além de Breton, Philippe Soupalt, Louis Aragon, René Magritte, Roger Vitrac, Paul Éluard, Antonin Artaud, Luis Buñuel, Salvador Dalí, Max Morise, Joseph Delteil, Max Ernst, René Crevel, Robert Desnos, Benjamin Péret, Victor Brauner, Giacometti, Joan Miró, Man Ray, Yves Tanguy, René Char, Georges Sadoul e outros artistas compunham o grupo de surrealistas da época do movimento (1924-1969). Alguns desses eram escritores como o próprio Breton e Philippe Soupalt, outros das artes plásticas como Salvador Dalí que fora também importante nas criações para o cinema.
      As principais manifestações surrealistas aconteceram na França (especialmente em Paris) onde Breton e muitos outros artistas nasceram. Porém, importantes mostras dessa tendência também se deram nos EUA (Nova Iorque) durante a Segunda Guerra Mundial onde alguns artistas estavam exilados. Depois da década de 30, há grande internacionalização do Surrealismo: artistas da Tchecoslováquia, Bélgica, Japão, Inglaterra, Dinamarca e outros países começaram a aderir ao movimento. 
      O Surrealismo acaba oficialmente em 1969 (Jean Schuster assina um documento dissolvendo o grupo), porém a garra e a determinação surrealista permanece em diversas ramificações da arte contemporânea - o desprezo aos romances não livres que seguem regras e padrões literários, a vontade de revolta, a subversão. As obras surrealistas foram essenciais para mostrar como “é tênue a distinção entre saúde e doença mental”.

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